Durkheim e os fatos sociais (Profº Ney)
Durkheim e os Fatos Sociais
Émile Durkheim nasceu em 1858 na Lorena, região que, à época, pertencia à França, passando mais tarde para a Alemanha. Morreu em 1917. Sua vida transcorreu em meio ao turbilhão da história europeia, que passou pela Guerra Franco-Prussiana (1870-71), pela Comuna de Paris (1871), pelas grandes agitações sociais no final do século XIX e pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Esta multiplicidade de acontecimentos sociais importantes estimulou nele o interesse por conhecer e analisar cientificamente a sociedade. Desse interesse nasceu sua contribuição à formação da Sociologia como ciência, da qual é considerado um dos fundadores. No texto que segue, Durkheim analisa o que chamou de “fato social”.
“Antes de procurar saber qual é o método que convêm ao estudo dos fatos sociais, é preciso determinar quais são esses fatos.
Se não me submeto às normas da sociedade, se ao vestir-me não levo em conta os costumes de meu país, na minha época e na minha classe, o riso que provoco e o afastamento a que me submeto produzem, embora de forma atenuada, os mesmos efeitos de uma punição. Aliás, apesar de indireta, não deixa de ser eficaz.
Não sou obrigado a falar a língua de meu país, nem a usar as moedas legais, mas é impossível agir de outro modo. Se tentasse escapar a essa necessidade, minha tentativa seria um completo fracasso. Se eu for um industrial, nada me proíbe de utilizar máquinas e equipamentos do século XIX, mas se fizer isso, com certeza vou me arruinar, pois não poderei competir com os que usam máquinas mais modernas.
Mesmo quando posso libertar-me e desobedecer, sempre serei obrigado a lutar contra tais regras. A resistência que elas impõem são a prova de sua força, mesmo quando as pessoas conseguem finalmente vencê-las. Todos os inovadores, inclusive os bem sucedidos, tiveram que lutar contra oposições desse tipo.
Temos aqui, portanto, certos fatos que apresentam caraterísticas especiais; estas consistem em maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo e dotadas de um poder coercitivo em virtude do qual se impõem como obrigação. Logicamente, tais fatos não poderiam se confundidos com fenômenos orgânicos, pois consistem em representações e ações; nem com os fenômenos psíquicos, pois estes só existem na mente dos indivíduos e devido a ela. Constituem, portanto, uma espécie diferente de fatos, que devem ser qualificados como fatos sociais”.
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 8. Reproduzido em OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2004.
Palavras chave: consciência coletiva e fatos sociais
Durkheim analisa a preponderância da sociedade sobre os indivíduos como ângulo de análise. O termo "consciência coletiva" designa a formação ou maneiras de ser, pensar e agir que são externas, coletivas e coercitivas as vontades individuais. A consciência coletiva está difusa (espalhada) por toda a sociedade, por isso é externa ao indivíduo (não é o que o indivíduo pensa, mas é o que a sociedade pensa). Por isso a consciência coletiva age sobre o indivíduo de forma coercitiva (uma força impositiva sobre o indivíduo).
Os fatos sociais (fenômenos sociais) não são explicados pela vontade dos indivíduos, nem biologicamente, nem psiquicamente. A consciência coletiva expressa-se de várias maneiras, através de mecanismos de identificação comum (ideias, símbolos, sentimentos, vestimentas, linguagem verbal ou corporal). Um determinado grupo social representa a criação desses mecanismos de consciência coletiva. Por exemplo: torcidas organizadas de futebol, integrantes de grupos religiosos, militante de partido político, skinheads, integrantes de grupos de hip hop, etc.
Indicação de filme para se relacionar com a teoria de Durkheim:
A ONDA (Alemanha, 2008)
Sinopse: Baseado numa historia real numa escola nos EUA nos anos 1960. O filme trata de um professor que faz uma arriscada experiência pedagógica com os alunos na criação de um movimento autoritário. Sem perceber, os alunos e o professor reproduzem os mecanismos do nazi-fascismo. Quando alguns percebem era tarde demais. O filme permite relacionar com os pressupostos de Durkheim sobre o poder do coletivo sobre os indivíduos no condicionamento de valores, normas e regras, na criação de mecanismos simbólicos de consciência coletiva e de coercitividade contra quem não faz parte do grupo social.
Conteúdo Estruturante: Teorias sociológicas
Segue abaixo vídeo produzido pela Unifesp com participação do professor da USP Gabriel Cohn sobre o pensamento de Durkheim: